no meio das mulheres desta família





Precisei de aproximadamente trinta anos para aprender a relativizar a vida.
Hoje aprendi que se efectivamente, o viver depende de nós, tudo o que era só uma pedra no sapato não passou só de merda. É tudo real quando passa a não depender de nós. Já conhecia o conceito, mas nunca passou de literatura bonita que fica bem no papel. E quando os outros a escrevem. 

Recordo os fundamentos para os choros e para as lamentações e fico com vergonha. De ter sido tão pouco de mim, porque não foi por acaso do destino ou das sinas das ciganas que as mulheres desta família são extraordinárias. Fomos incrivelmente bem educadas e criadas para sermos boas mulheres. Deixámos de questionar. E quando caímos, levantamos o rabo do chão e seguimos. Lutamos sempre por uma migalha com a força de mil leões.

Hoje fica recordado o dia em que o chão falhou e tombei de costas. Acordei numa vida menos boa, triste. A vida em que se cresce porque tem que ser. Em que ser adulto não é opção. E que ser mulher, no meio das mulheres desta família, é tarefa dura. Porque são elas que colocam a fasquia muito alta.
E é uma grande estalada na cara. Da vida.



'Sentir, amar, sofrer, devotar-se - será sempre o texto da vida das mulheres.'
Honoré de Balzac



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