fuck



"Quando vires os teus olhos a verem-te,
quando não souberes se tu és tu ou se o teu reflexo no espelho és tu,
quando não conseguires distinguir-te de ti,
olha para o fundo dessa pessoa que és e imagina
o que aconteceria se todos soubessem aquilo que só tu sabes sobre ti."

José Luís Peixoto, Antídoto
| foto de titdemon | deviantArt.com

os meus c's

O meu nome começa por C. Sou cansativa, carinhosa e caricata. Sou corajosa e covarde, consciente e raramente estou calada, por isso, sou também comunicativa. Normalmente estou certa mas sou ciumenta e casmurra, chata até ao cansaço. Tento ser cuidadosa e esgoto-me ao crítico. Doem-me as costas e devia ter ido correr. Gosto de ser cínica quando as chagas do coração falam por mim. Sou uma chorona nata mas quase sempre choro com classe. Acho-me entendida em cinema e gosto de pensar que sou culta. Sou uma criança em ponto não muito grande, craque a fazer asneiras, que gosta de casa e de colo. Amo cães e cavalos. Continuo a ser complicada e caprichosa. No corpo e na alma.
E posto isto, confesso que gosto dos meus C's se bem que há imensos que preferia que não existissem, por isso nem sequer os escrevo, para não ser mais catraia. Vou tomar um café. E a seguir quero um cigarro e uma cerveja!

o desejado


Cena XV
JORGE – Romeiro, romeiro! quem és tu?!
ROMEIRO (Apontando com o bordão para o retrato de D. João de Portugal.) – Ninguém!

Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, Acto II


| foto de mirandela pedro| olhares.aeiou.pt|

happy we'll be


"It's far beyond the star
It's near beyond the moon
I know beyond a doubt
My heart will lead me there soon."
Frank Sinatra

|Foto de DDiArte | olhares.aeiou.pt |

la nuit à Paris


'Sharing different heartbeats in one night'

A torneira pingava as últimas gotas. Cobri o rosto da noite e confiei que a água tépida me conseguisse disfarçar o olhar. Olhei disfarçadamente o espelho e a torneira ainda pingava. Vi um sorriso. Aqueles sorrisos bonitos, aqueles que arrancam os pés do chão e nos sugam a alma. Aquele sorriso que, embora familiar, me era demasiado estranho. Olhei mais à frente e vi-te os olhos negros carregados de uma estranha e complacente ternura. Mas não arrancou um pé do chão. Depois implorei ao espelho que me desse imagens embaciadas pelo calor porque não gosto de definição. Então aí vi - um sorriso daqueles que nos sugam a alma, os olhos negros carregados, um sorriso a gritar saudade, uma ternura alheia. Foquei as luzes, os meus pés, a parede que senti estar mais carregada de tinta vermelha, as minhas mãos que se abriram e fecharam e estagnaram. Perdi-me em 2 metros quadrados e a minha alma foi sugada em ti. Depois olhei as tuas mãos, o teu sorriso familiar e estranho, os teus olhos e a ternura, as tuas mãos calejadas de saudade a aceitar um carinho perdido há tanto, vi-te nos olhos lamento e inspirei e a torneira ainda pingava.


Não vou voltar àquela noite de Paris.

|Foto de Vera da Veiga Ventura | olhares.aeiou.pt |