la nuit à Paris


'Sharing different heartbeats in one night'

A torneira pingava as últimas gotas. Cobri o rosto da noite e confiei que a água tépida me conseguisse disfarçar o olhar. Olhei disfarçadamente o espelho e a torneira ainda pingava. Vi um sorriso. Aqueles sorrisos bonitos, aqueles que arrancam os pés do chão e nos sugam a alma. Aquele sorriso que, embora familiar, me era demasiado estranho. Olhei mais à frente e vi-te os olhos negros carregados de uma estranha e complacente ternura. Mas não arrancou um pé do chão. Depois implorei ao espelho que me desse imagens embaciadas pelo calor porque não gosto de definição. Então aí vi - um sorriso daqueles que nos sugam a alma, os olhos negros carregados, um sorriso a gritar saudade, uma ternura alheia. Foquei as luzes, os meus pés, a parede que senti estar mais carregada de tinta vermelha, as minhas mãos que se abriram e fecharam e estagnaram. Perdi-me em 2 metros quadrados e a minha alma foi sugada em ti. Depois olhei as tuas mãos, o teu sorriso familiar e estranho, os teus olhos e a ternura, as tuas mãos calejadas de saudade a aceitar um carinho perdido há tanto, vi-te nos olhos lamento e inspirei e a torneira ainda pingava.


Não vou voltar àquela noite de Paris.

|Foto de Vera da Veiga Ventura | olhares.aeiou.pt |

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