ausência


' Eu deixarei que morra
em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.'


Vinicius de Moraes

Nada deixa que eu deixe morrer e não há espadas nem adagas que me façam lutar.
Prostrada, assisto.
ad finem


2 comentários:

Mafas disse...

Que lindo minha querida! Saudades... M.

inocência perdida disse...

Não tenhas medo...eu estou aqui...
Como dantes e para sempre...
Não deixarei que nenhuma lágrima tua não seja uma lágrima minha...
Não deixarei ecoar o teu choro, chorarei contigo...
Não te deixarei cair sem cair contigo...
Não te deixarei desistir sem desistir eu também...e sabes bem que não sei desistir!
Mais do que tudo isto, é por te amar tanto que não permitirei, que não te permitas a ser feliz! Como mereces...
Quero-te bem**