'Era o silêncio sobre a terra. O mundo estava preparado. No seu lugar, cada objecto esperava o início. O sol esperava. O mundo estava preparado e suspenso.
Ele e ela caminhavam na rua. Pensavam em qualquer coisa que não era nem a terra, nem o sol, nem julho. A rua ficou deserta quando se aproximaram. Esqueceram aquilo em que pensavam. E o lugar das ideias que tinham ficou vazio de tudo menos daquele instante igual, a divisão de um instante, um instante espetado dentro de um instante, o mesmo ponto de tempo em que olharam um para o outro. Dentro daquele momento, como dentro de toda a eternidade, aquele foi um ponto de tempo feito de terra e de sol e de julho. E o tamanho da terra entrou pelos seus passos. E o sol entrou pelos seus olhares.'
José Luis Peixoto, Antídoto
A partir daqui...a vida - num momento de terra e sol. ad finem parabéns*
Saudades de ter certezas acerca das coisas e de tudo que rodeia o pequeno ser sempre perdido no mundo. Feridas que ficam sempre e destroem sentires que não merecem tamanha amargura. Sossega. Tudo está bem. Deita a cabeça sob a almofada e tenta adormecer...logo que os fantasmas parem de rir esgazeados na alegria de quem troça de feridas que ainda sentem dias que doem.
Onde pára o sentir que já se sentiu? Por que tudo é mais intenso e os medos maiores? A noite presa a memórias, e só chamam por ti. Se ao menos tudo estagnasse, e as horas fossem iguais e os dias empregnados pelo sabor de quem ama pela primeira vez - o receio fugia e entravas pela porta e sorrias. Que nunca as palavras te custem, que nunca um beijo seja pedido, que nunca o relógio bata as horas, que nunca deixes de sorrir, que nunca deixes uma carícia por sentir, que nunca deixes a mão por agarrar, que nunca deixes um abraço fugir, que nunca um suspiro retenhas - com 'nadas' se constrói uma história. Ainda murmuro segredos ao silêncio e tenho medo que ele não os saiba guardar... não quero que ninguém saiba como te amo...tomariam-me por demente.
Sossega...deita a cabeça na almofada. Sossega, tudo está bem. Que nunca deixes de sonhar porque ao teu lado vou seguir.
ad finem tua homem, como sinto a tua falta
(Há algum tempo atrás uma amiga muito querida que conhece demasiado bem as amarguras desta vida e consegue dar valor de lágrima no olho a poemas e melodias como esta, lembrou-se de mim e deu-me a conhecer esta pequena pérola da música e da língua portuguesa...e claro está que adivinhou que ia amar...bruxa! Obrigada pequenina!)
Perdida de cansaço, zangada de saudade e irada contigo.
Dias e horas que se resumem simplesmente a isto...
Senta-te comigo, sorri-me, diz-me olá. Arranca os meus braços e envolve-os na tua cintura. Arranca a minha cabeça e encosta-a a ti. Cheira-me o cabelo. E fica assim comigo. Tenho umas mãos moldadas, e um sorriso estereotipado que só existe quando te sinto. E o mundo torna a desabar...Desapareceste e fiquei aqui.